Fui incumbido pelo Hélio para relatar sobre como foi a minha prova no GRC 1.600, confesso que jamais fiz algum texto relatando sobre os Longões que já fiz, então será uma batalha tentar reviver o que aconteceu.
Wilson Rezende durante o GRC1600 – Grand Randonnée Cerrado 1.600 Km (Arquivo Pessoal)
No dia 18/11 cheguei em Caldas Novas por volta das 21:00 horas e fui encontrar com todos os participantes no restaurante em que estavam, todos estavam muito animados, principalmente o Júlio, que já tinha concluído 2.500 km, sem contar os acréscimos que tem em todos os pedais do Randoneiro Cristal.
No dia 19/11 desci às 06:00 horas para tomar café, a ansiedade era muito grande, este pedal seria para que eu recuperasse a autoconfiança, por não ter completado o PBP 2019, ainda pairava o medo de algum problema muscular, até por isso não falei para praticamente ninguém que faria esta prova, para todos eu estava de férias do pedal.
A parte da manhã foi tranquila, tempo bom, chegamos em Itumbiara e resolvemos almoçar, durante o almoço apareceu a primeira chuva, saímos e uns 5 km depois pegamos chuva, na sequencia rodamos um pedaço intercalado com chuva e sem, até que piorou e ficou mais forte eu e o Júlio paramos em um posto abandonado, isso antes de Morrinhos, depois disso não mais pegamos chuva naquela noite e cheguei em Aragoiânia após às 03:00 da manhã.
No dia seguinte saí por volta das 08:00 horas, já acumulando atraso, fui almoçar em Goinaira, o pedal não estava rendendo, saí e pouco depois o Júlio me alcançou, parecendo um avião, fomos juntos, lanchamos em Itaberaí e seguimos para Goiás, quando chegamos no Mirante já estava fechado e era aproximadamente 19:00 horas, a chuva nos rondava o tempo todo, mas neste dia escapamos dela, consegui chegar em Petrolina um pouquinho antes das 06:00 da manhã, o atraso aumentou.
Saímos de Petrolina em direção a Ouro Verde, muita subida e só para variar o vento contra, almoçamos em Nerópolis (eu, Júlio e Bala), fizemos um breve descanso e seguimos para Anápolis, pegamos chuva até o Posto Presidente (BR 060), fizemos um lanche e seguimos ainda com chuva, pouco depois de passarmos pela Base Aérea a chuva parou, pegamos um belo entardecer, com arco íris, chegamos em Pirenópolis por volta das 20:00 horas, jantamos e na saída veio o maior baque para mim durante todo o pedal, o Bala falou que iria desistir, outros 4 companheiros já havia desistido, mas o Bala estava conosco e o menino é muito forte.
Wilson Rezende durante o GRC1600 – Grand Randonnée Cerrado 1.600 Km (Arquivo Pessoal)
Arrumamos força e seguimos para Corumbaíba, depois Olhos d’Água, um pouco antes o Hélio me encontrou e me socorreu com um sanduiche, uma Coca Cola e um café quentinho, enquanto ele fazia o café tirei uma soneca, segui para Alexânia, depois um descanso em no SAL (Serviço de Atendimento ao Usuário), novamente junto com o Júlio seguimos para Anápolis.
Quando saímos de Anápolis foi o puro caos, primeiro veio um sono louco, depois descobrimos que estávamos na estrada errada, estava muito bom para estar certo, vento a favor, resultado perdemos tempo com 20 km errados. Depois de voltar fomos para Gameleira, este lugar nunca chegava, depois seguimos para Silvânia, cidadezinha terrível para sair, só sobe, chegamos em Vianápolis e rumamos para São Miguel do Passa Quatro, cheguei um pouco antes do Júlio, lanchei e tirei um cochilo, segui para Crstianápolis e depois veio o calvário com o sono, ao chegar em Palmelo resolvi tirar uma soneca em ponto de ônibus, depois cheguei novamente morrendo de sono em Pires do Rio, eram 04:30 horas da manhã, resolvi dormir, momento de utilizar uma das mantas de alumínio.
Às 06;06 da manhã segui para Cristalina, só consegui chegar às 16:00 horas, morrendo de sono. Após um belo banho e uma soneca, segui para Catalão, o Vitor e o Júlio tinham saído às 17:40 horas e eu saí às 18:26 horas, após comer uma lasanha bem quentinha, a chuva tinha parado, mas ainda havia enxurrada, meus colegas saíram na chuva. Passei no Sonho Verde, comprei um lanche que iria comer após completar 70 km, com aproximadamente 55 km encontrei os dois e seguimos juntos, parei conforme minha programação para lanchar no km 70, o Vitor e o Júlio seguiram, parou um caminhão guincho da Concessionária querendo saber se estava tudo bem?
Segui pedalando e logo encontrei o Júlio, seguimos juntos, não demorou muito o pneu traseiro dele furou e paramos para trocar. A partir deste momento começou o novamente o Calvário do sono e para piorar minha bike caiu sozinha e ao sair eu ainda levei um tombo, com estas duas quedas meu câmbio ficou meio complicado, só dava para usar a coroa maior, por sorte todas as catracas entravam, neste momento dei graças a Deus por ter uma relação traseira 11×42, até Catalão subia pouco, não tinha problemas, chegamos em Catalão e eu mal conseguia ficar com os olhos abertos.
Wilson Rezende durante o GRC1600 – Grand Randonnée Cerrado 1.600 Km (Arquivo Pessoal)
Falei para o Júlio que iria dormir um pouco e ele disse que seguiria direto. Após um banho e uma soneca levantei, fui tomar café com o Hélio, saí de Catalão às 09:00 horas, tinha tempo de sobra, eram só 140 km. Os primeiros 42 km foram tranquilos, poucas subidas, mas o sono já estava presente, cheguei em Nova Aurora às 11:15 horas, resolvi almoçar, saí de lá 12:00 horas, ainda tinha tempo sobrando.
O trecho de Nova Aurora era só tobogãs bem pesados e o sono já me atormentava ainda mais forte, com 15 km neste trecho o Hélio me encontrou, ele tinha prometido nos abastecer com água neste trecho, me disse que tinha uma subida forte e um trecho com 3 a 4 km de plano e falso plano, confesso que ainda não achei este trecho, só tinha tobogãs e muito sono, gastei 2:30 neste percurso, ao chegar em Corumbaíba, uma subida infernal, já no perímetro urbano, um cachorro praticamente da altura do meu quadro chegou e mim, olhou e deve ter pensando: este não vale a pena, já está morto…
Fiz mais um lanche em Corumbaíba, o Hélio ainda estava lá, eu era o último. Saí de Corumbaíba e ainda tinha quase 5 horas para completar 57 km, até Marzagão foi relativamente bem, mas com sono, depois desta cidade, os últimos 37 km, foram muito difíceis, as subidas não acabavam, mas o pior era o sono, fiquei em pé na bicicleta quase todo o tempo, inclusive descendo, se sentasse não conseguia levantar o pescoço.
Faltando uns 10 km para concluir encontrei o Vitor, neste momento eu tinha que parar ao final de cada subida para lavar o rosto e o Vitor me passava novamente, na terceira vez que parei, ele também parou e disse para que eu o acompanhasse olhando para a lanterna dele, na descida funcionou bem, mas na subida não dava, ele usava a coroa menor e eu tinha que usar a coroa maior, mas felizmente consegui concluir estes últimos 5 km, que mais pareciam 50 km.
Bem, conclui.
Wilson Rezende ao concluir o GRC1600 – Grand Randonnée Cerrado 1.600 Km (Arquivo Pessoal)
Até arrumei forças para erguer a bike, mas confesso que até hoje, 9 dias após o término do pedal ainda estou com sono atrasado.
O ponto mais positivo do pedal com toda certeza foi a organização deste e olha que apesar de achar muito bem organizado xinguei o Hélio em dois trechos: BR 153 após deixarmos o tapete que é a BR 060, pegamos um acostamento horroroso e o movimento da rodovia é muito grande, quando viramos para Planalmira também tinha um movimento grande demais e não tinha acostamento, o outro trecho foi entre Silvânia e Vianópolis, também bem movimentado. Tirando isso ele nos entregou o que prometeu, belas paisagens e muitas subidas, se bem que o Cerrado é plano…
O outro ponto positivo da prova foi pedalar ao lado do Júlio aproximadamente 1.400 km, o único que completou o RC 4.100, o cara é extremamente simples e gente boa demais, mas ele tem que ser estudado, pedalar mais que 4.100 km sem assar e sempre parecia descansado, isso não é normal… kkkkkkkkk
Descobri que este foi o meu segundo pedal com ele, pois fizemos o SULBR1200 juntos no ano passado, mas não andei perto dele.
O único ponto negativo foram as desistências, eu já vinha de uma desistência no PBP 2019, quando faltavam apenas 180 km, ver 5 companheiros desistindo foi chocante, todos eles para são muito mais fortes que eu, mas eu tinha certeza que iria concluir.
Para a próxima insanidade daqui 2 anos sugiro repensar as distâncias dos hotéis e se possível nem passar perto da BR 153…kkkkk
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Muito bom, Wilson Rezende. Parabéns, lendo o relato pude sentir o perrengue que destes momento de sono e cansaço acumulados… uma prova de grande superação 👏👏👏
Parabéns Sr. Wilson, esse relato foi emocionante e motivador para quem pretendo um dia participar de uma insanidade desse tamanho. O Sr. É uma das minhas inspiração no ciclismo. 👏👏👏👏🥇