Bicicleteiro fala sobre atropelamentos, ciclovias e mobilidade urbana

Em entrevista para o Globo Esporte e para o DF TV, Darley Cardoso (Ciclista Bicicleteiro da nossa equipe), falou sobre os atropelamentos no Parque da Cidade, ciclovias, e comentou sobre a mobilidade urbana na cidade.
Darley Cardoso Globo Esporte
Darley Cardoso em entrevista para o Globo Esporte e DF TV (Guru P+)

A interdição do autódromo e a destruição do (mini)velódromo para aumentar o estacionamento do Estádio Mané Garrincha, muitos ciclistas que utilizavam esses espaços vieram treinar no Parque da Cidade. Além disto, no mesmo período houve um aumento do número ciclistas nas ruas, alguns iniciantes em busca de maior qualidade de vida, outros procurando melhorar sua performance e aprender ou andar em pelotões, além do crescente número de pessoas que trocaram o uso do carro pela bicicleta e atravessam o Parque para ir trabalhar ou estudar.

Com isto, os motoristas que não estavam acostumados a compartilhar as vias foram surpreendidos, e por falta de educação no trânsito, alguns não sabem que a preferência no trânsito deve ser sempre do pedestre e em seguida do ciclista, do veículo menor para o maior. Há uma inversão de valores onde a crença dominante é que as ruas são para os carros, nada mais errado. É necessário educar os motoristas para que sejam conscientes da responsabilidade de garantir a segurança das pessoas que transitavam nas ruas e calçadas. Afinal, se o carro for mal utilizado ele se torna uma arma.

Sobre os atropelamentos de ciclistas no Parque da Cidade, os mais graves acontecem em casos de agressão do motorista quando eles fecham, ou tiram finas, do ciclista. Há um caso recorrente, de um motorista de uma caminhonete branca, que joga o carro em cima do pelotão e atropela ciclistas. Infelizmente, ele já fez isto algumas vezes e continua a solta. Há também casos de distração e desrespeito, quando os motoristas entram ou saem de uma vez dos estacionamentos sem ter cuidado com o trânsito das bicicletas na via.

Como muitos motoristas utilizam o Parque da Cidade para cortar caminho e tirar o atraso do congestionamento, o trânsito no parque também fica cada dia mais perigoso devido a alta velocidade, em um local onde a velocidade deveria ser compatível com o trânsito de pessoas, ou seja, reduzida.
A questão das ciclovias também é bastante complexa, pois falta informação a respeito da sua utilização. Sem dúvida alguma elas são importantíssimas para aumentar a segurança das pessoas, mesmo que nossas ciclovias estejam incompletas, que muitas vezes não levam a lugar algum ou terminam de repente em um ponto crítico para o ciclista. Elas são fundamentais para o processo de evolução da mobilidade urbana e para diminuir a dependências das pessoas com o veículo motorizado. Inclusive, com as ciclovias muitos pedestres começaram a se deslocar com mais segurança, passear, correr, ou seja, elas abrem espaços para as pessoas transitarem pela cidade.

No entanto, novamente falta informação para os motoristas, que por pensar que a existência de uma ciclovia ao lado da pista obrigaria o ciclista a transitar somente por ela. É preciso entender que um atleta em treinamento, ou mesmo um ciclista que se está transitando em maior velocidade, não deve utilizar a ciclovia, pois isto colocaria em risco as pessoas que transitam por ela. E devemos lembrar que a preferência no trânsito começa pelo pedestre, portanto, se um pedestre está caminhando na ciclovia, a preferência é dele, e o ciclista é responsável pela sua segurança. Por isso, a partir de determinada velocidade ou quantidade de ciclistas transitando, o ideal é ir para a pista de rolamento, que é mais adequada.

Não podemos culpar apenas os motoristas, claro que eles são responsáveis por puxar o gatilho acelerar. Mas devemos lembrar que o próprio Código de Trânsito Brasileiro foi redigido, quase exclusivamente, para regular e facilitar o uso de automóveis. São pouquíssimos artigos sobre a locomoção de modo ativo (sem motor), e mesmo esses seguiram a lógica do carro, ou seja, não levaram em consideração as dificuldades e a forma humana de se locomover com a sua própria energia. Portanto, há interesses corporativos em manter a dependência exclusiva em relação ao carro.

Há um processo complexo acontecendo, por um lado temos a resistência política representada pelo lobby da indústria automobilística e apoiada por motoristas intransigentes, e por outro lado pessoas que começam questionar o modelo de transporte e a qualidade vida nas cidades. Eu acredito que a bicicleta é um importante agente de autoconhecimento e de transformação pessoal e social, mas isso é muito difícil de explicar para quem nunca experimentou, tem que vivenciar para entender.
 

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