A História do Ironman no Havaí

No mundo do triathlon, uma competição destaca-se como o ápice do desafio físico e mental: o Ironman. Esta lendária prova não é apenas uma corrida, mas uma jornada que testa os limites humanos. Vamos explorar a história fascinante por trás do Ironman e descobrir como essa competição se tornou um ícone do mundo do esporte.

Kailua Kona, Hawaii (Photo by Ezra Shaw / Ironman)

Origens do Ironman

Tudo começou em 1977, no Havaí, quando Judy e John Collins, participaram da organização de uma competição de corrida e natação em Honolulu, ajuda a plantar a semente da ideia de realizar um evento de triathlon no ano seguinte. Eles já haviam participado do Mission Bay Triathlon em San Diego em 25 de setembro de 1974, e seu objetivo era criar algo voltado para os atletas de resistência.

Durante uma conversa em uma confraternização com amigos e companheiros do clube naval, sobre uma matéria da Revista Sports Illustrated que indicava o ciclista Eddy Merckx como o melhor atleta do mundo nos quesitos forma e preparo físico. Houve uma discussão sobre quem seria o mais resistente: o nadador, o ciclista ou o corredor? E qual seria a prova havaiana que melhor representava esse desafio de resistência? Seriam os 3.800 metros de natação da tradicional Waikiki Rough Water Swim? Ou os 180 quilômetros de ciclismo da famosa Around the Island Bike Race (realizada originalmente em dois dias)? Ou ainda os 42,195 Km da maratona de Honolulu? E foi assim que o casal Judy e John Collins, lançaram o desafio: a prova mais dura seria aquela que englobasse as três provas mais difíceis da ilha juntas e no mesmo dia. Naquele momento, todos riram. E Judy e John disseram um ao outro: “Se você fizer isso, eu farei”, e John acrescentou “…quem terminar primeiro, o chamaremos de Homem de Ferro”.

O desafio foi lançado e no dia da prova apenas 18 competidores apareceram, sendo que 3 desistiram ainda no início e outros 3 não conseguiram concluir o trajeto. Relatos afirmam que Collins distribuiu três folhas de papel descrevendo o percurso e com algumas regras, e na última página estava escrito à mão: “Nade 3.800 metros! Pedale 180 km! Corra 42,2 km! Vanglorie-se pelo resto da sua vida!”

Na época eles sonhavam que o triathlon se tornaria um evento anual no Havaí. Em 18 de fevereiro de 1978, Judy e John Collins viram seu sonho se tornar realidade com o primeiro triathlon havaiano do Homem de Ferro. Mal sabiam eles então o fenômeno que se tornaria e quantas vidas isso impactaria, e não imaginavam que estariam iniciando a história de um novo esporte que conquistaria milhares de adeptos ao redor do mundo. Naquele ano, Gordon Haller, um motorista de táxi aposentado da marinha, foi o primeiro dos 11 homens de ferro a completar a prova com o tempo de 11 horas 46 minutos e 58 segundos, e John Collins completou a prova em aproximadamente 17 horas.

Em 1979, a competição foi prejudicada pelo mau tempo, mas ainda assim foi uma edição importante para a difusão do triathlon e do Ironman Havaí. Naquele ano, o repórter da Sports Illustrated Barry McDermott estava na ilha cobrindo um torneio de Golf e acabou escrevendo uma matéria de 10 páginas para a revista sobre a competição. Dos 15 atletas participantes, a ciclista Lyn Lemaire foi a primeira mulher a aceitar o desafio e como primeira Ironwoman da história, apresentou um grande desempenho ao se manter na segunda colocação durante boa parte do percurso. Lemaire acabou em 5º lugar na classificação geral, com o tempo de 12 horas 55 minutos 38 segundos.

Desde então, o Ironman é um sucesso de público e crítica, a prova mais cobiçada do triathlon, que serviu de inspiração para originar novas categorias da modalidade. Hoje em dia, além da distância clássica do Ironman (3.86 km de natação, 180.25 km de ciclismo e 42.2 km de corrida), há também o Meio Ironman: (1.900 metros de natação, 90 Km de ciclismo e 21 Km de corrida), ambos com campeonatos e rankings mundiais por categorias e suas dinâmicas próprias de preparação e competição.

A Lenda de Kona

O local escolhido para o evento, Kailua-Kona, no Havaí, rapidamente tornou-se lendário. A beleza do cenário contrasta com as duras condições climáticas e as fortes correntes do oceano, criando um teste verdadeiramente épico para os triatletas. Kona se transformou no palco onde os sonhos dos triatletas se encontram com a dura realidade do Ironman.

Assim o Ironman em Kona rapidamente se tornou o auge das provas da modalidade e por isso cada vez mais concorrida e procurada, tornando-se a etapa mais importante do calendário. E para participar, o que não é uma tarefa fácil, deve-se ficar entre os primeiros finalistas nas competições nacionais ou continentais, ou seja, ser um atletas bem ranqueado nas etapas classificatórias do Ironman que acontecem ao longo do ano em diversos países (e pagar imediatamente o custo de inscrição).

Além disso, devido a grande demanda e do contingente de atletas que vão para Kona todos os anos, a organização do Ironman separou as finais do mundial em Kona bianualmente, para que um ano seja o mundial de Ironman Feminino e no outro ano seja o mundial do Ironman Masculino.

Histórias de Superação

Ao longo dos anos, o Ironman tem sido palco de histórias inspiradoras de superação. Desde atletas profissionais até entusiastas amadores, cada participante carrega consigo uma jornada única de dedicação, sacrifício e resiliência. Muitos enfrentam desafios pessoais, enquanto outros buscam ultrapassar barreiras físicas e mentais.

O Ironman é conhecido por seus momentos emocionantes e épicos. Desde a emocionante saída da água até a corrida final na famosa Ali’i Drive, cada etapa é repleta de drama e determinação. Recordes são quebrados, histórias de superação emocionam o público e a linha de chegada é o palco para lágrimas de alegria e exaustão.

Com o reconhecimento dos atletas com deficiência física em 1997, o australiano John MacLean se torna o primeiro atleta a impulsionar uma bicicleta manual e uma cadeira de rodas para terminar oficialmente no Campeonato Mundial Ironman.

A partir de 1980, quando os fundadores John e Judy Collins deram permissão ao “Wide World of Sports” da ABC para filmar o evento, começou o imediato reconhecimento mundial do evento. Em 1981, a prova mudou da agitada Oahu para a tranquila Big Island, em Kona, onde é realizada até hoje. Na edição de 1982 aconteceu uma das cenas mais famosas do Triathlon mundial protagonizada pela estudante universitária Julie Moss que desmaia a poucos metros da linha de chegada do Campeonato Mundial. Ela é preterida pelo título, mas não desiste; ela rasteja até a linha de chegada. O fato dela ter trabalhado como salva-vidas ajudou a atleta a se manter na dianteira da natação, seguindo para um pedal forte e abrindo uma grande liderança na maratona. Mas diante de tanto esforço, Moss começou a sentir o peso da prova nos quilômetros finais. Quando estava quase se consagrando vencedora, foi ultrapassada por Kathleen McCartney na menor margem de vitória da história do Ironman Havaí: apenas 29 segundos. Moss lutou contra a fadiga extrema e a desidratação nos últimos 100 metros, caindo e levantando, até que começou a rastejar para alcançar a linha final, protagonizando assim uma das cenas mais incríveis de superação e um dos momentos mais emocionantes e icônicos da história do Ironman.

Hoje, centenas de milhares de triatletas de todo o mundo desafiaram-se a provar aos amigos, entes queridos e até a si próprios que “Tudo é possível”.

Impacto Global

O sucesso do Ironman não ficou restrito ao Havaí. Eventos Ironman espalharam-se por todo o mundo, permitindo que atletas de diversas nacionalidades vivam o desafio original. Cada prova é única, mas todas compartilham o mesmo espírito de superação e conquista.

O que demonstra que Ironman não é apenas uma competição, é uma celebração da força humana e da busca incessante por superação. A história dessa prova icônica continua a ser escrita a cada novo evento, enquanto atletas corajosos enfrentam seus próprios limites e inspiram outros a fazerem o mesmo. O Ironman é mais do que uma corrida; é uma lição de resiliência, determinação e triunfo sobre desafios aparentemente impossíveis.

IRONKELLER – 26ºIronman Havaí – Episódio 01 (Youtube / Fernanda Keller TV)

Recordes

Melhor Tempo Masculino

O recorde masculino de tempo no Ironman foi estabelecido por Kristian Blummenfelt, da Noruega, em 2021, durante o Ironman Cozumel (MEX), com um tempo incrível de 7 horas, 21 minutos e 11 segundos. Enquanto que o recorde do Campeonato Mundial do Ironman em Kona, pertence a outro norueguês, Gustav Iden, com o tempo de 7 horas, 40 minutos e 24 segundos.

Destaque também para os brasileiros André Lopes e Felipe Santos também no Ironman Cozumel, com ambos entrando para o seleto grupo de atletas com tempos abaixo de 8h. André quebrou o recorde sul-americano da distância, que pertencia a Reinaldo Colucci, ao cravar 7h43m30s, enquanto Felipe Santos marcou 7h45m41s. Além deles três, o quarto brasileiro sub-8h na história é o catarinense Igor Amorelli, que é dele o melhor tempo de um brasileiro em Kona, com 8 horas 34 minutos e 59 segundos.

Melhor Tempo Feminino

O recorde feminino pertence a Laura Phillip, da Alemanha, que estabeleceu o recorde em 2022 durante o Ironman Hamburgo, com um tempo impressionante de 8 horas, 18 minutos e 20 segundos.

A capixaba Pâmella Oliveira, vencedora do Ironman Brasil, em Florianópolis, em 2023. É a recordista brasileira com o tempo de 8 horas 44 minutos e 24 segundos. De quebra ela também tem o melhor tempo de uma sul-americana em uma competição Ironman.

Já a Fernanda Keller é a única brasileira que fez história no Ironman em Kona. Ela disputou o mundial no Havaí 26 vezes, sendo a única atleta a disputar o Campeonato Mundial de Ironman por 23 anos seguidos como atleta profissional. Colecionando 6 medalhas de bronze e por 14 temporadas entre as dez melhores do mundo, batendo seu recorde em 9 horas 24 minutos e 30 segundos. Sua primeira participação foi em 1989, e sua última foi em 2013 ficando conhecida por sua determinação, resistência e habilidade para enfrentar as condições desafiadoras de Kona. Fernanda Keller, que foi recordista Brasileira e Sul-americana com as melhores marcas de tempo, também estabeleceu o recorde mundial como a mulher mais longeva a ganhar um título de Ironman aos 44 anos.

Número de Vitórias

Dave Scott, dos Estados Unidos, e Mark Allen, também dos Estados Unidos, compartilham o recorde de mais vitórias no Ironman Hawaii, cada um com seis títulos. Entre as mulheres, a “rainha de kona” vencedora de 8 Campeonatos Mundiais do Ironman é da atleta nascida na Rodésia do Sul (atual Zimbábue) e criada na África do Sul, Paula Newby-Fraser.

Vitória Mais Jovem

Scott Tinley (EUA) aos 25 anos e Kathleen McCartney (EUA) aos 22 anos, foram os atletas mais jovens a vencer o Campeonato Mundial de Ironman no Havaí, ambos no ano de 1982.

Vitória Maior Idade

O atleta mais velho a vencer o Ironman Havaí é Craig Alexander, da Austrália, que venceu em 2011 com a idade de 38 anos. E Natascha Badmann, também aos 38 anos tornou-se a recordista entre as mulheres no ano de 2005.

Primeira Mulher a Quebrar as 9 Horas

Paula Newby-Fraser, do Zimbábue, foi a primeira mulher a quebrar a barreira das 9 horas, estabelecendo esse feito em 1992.

Primeiro Atleta a Quebrar as 8 Horas

Mark Allen, dos Estados Unidos, foi o primeiro atleta a quebrar a barreira das 8 horas, alcançando essa conquista durante o Ironman da Europa em Roth, em 1997.

Ironman em Locais Diversos

Chrissie Wellington, do Reino Unido, é conhecida por ter vencido todos os Ironman que disputou, incluindo o Campeonato Mundial do Ironman no Havaí, em 2007, 2008, 2009 e 2011.

Número de Participações no Ironman Havaí

Fernanda Keller é a grande recordista em participações no mundial no Havaí, com 26 participações, sendo a única atleta, entre homens e mulheres, a disputar o Campeonato Mundial de Ironman por 23 anos seguidos.

Guinness World Records

O recorde do Guinness Book de Pessoa Mais Velha a concluir o Ironman no Havaí é do japonês, Hiromu Inada, de 85 anos, que começou no triathlon aos 70 anos de idade, em 2018 entrou para o livro dos recordes quando completou a prova em 16 horas 53 minutos e 50 segundos, com parciais de 1h51min de natação, 180 km de bike em 8h02min, e a maratona final em 6h28min.

Madonna Buder, conhecida como a “Freira de Ferro”, uma religiosa nascida em St. Louis, estado do Missouri (EUA) que começou no triathlon aos 50 anos de idade, aos 92 anos carrega consigo a experiência de ter participado de cerca de 400 provas de triathlon, sendo 50 de Ironman. Ela possui o recorde mundial de mulher mais velha a finalizar o Ironman Triathlon aos 82 anos, bem como de ter conquistado recorde no Campeonato Mundial do Ironman aos 76 anos. Foi Madona que obrigou a criação de uma nova categoria no esporte para pessoas acima de 80 anos.

“Quando eu competia no Havaí, eu terminava minha prova, ia para casa descansar e voltava apenas para ver a Sister Madonna ultrapassando a linha de chegada. Tinha vezes que meus familiares ficavam em casa e eu voltava sozinha para lhe entregar a coroa de flores.”
Fernanda Keller

Representantes de Brasília em Kona

João Carlos de Almeida, é o brasiliense que mais vezes embarcou para o Havaí, tendo largado em pelo menos 7 Ironman em Kona e completado 5 vezes a prova. Triatleta desde os 13 anos de idade, João Carlos treinou com o lendário Zé Cadima e dentre títulos importantes na modalidade, foi o 2º colocado da categoria 40 a 44 anos no Campeonato Latino-Americano de Ironman, com o tempo de 8 horas 58 minutos.

Enquanto que melhor tempo de um brasiliense no Ironman em Kona, é de Leandro Macedo, que em 1997 completou a prova em 9 horas 04 minutos e 03 segundos.

Veja também

» Saiba mais sobre as distâncias e tipos de provas no triathlon

Fontes

Página oficial do Ironman e websites dos atletas mencionados e/ou respectivas páginas na Wikipedia e mídia.

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