A ultramaratona Caminhos de Rosa, trás um pouco da dinâmica de corrida de aventura para o mountain bike, no estilo survivor, e um conceito que busca integrar esporte e cultura com o percurso baseado na travessia do caminho da boiada que inspirou Guimarães Rosa.
Postal Caminhos de Rosa – Buritizinho/MG (Divulgação)
Já no briefing o diretor da prova, André Zumzum, em uma apresentação do percurso bem descontraída, avisa: “Não adianta reclamar, vocês vieram aqui para sofrer, vocês pagaram por isso. Se fosse uma corrida fácil este auditório estaria cheio. Mas esse não é o nosso objetivo.”
A prova tem 3 momentos diferentes, cada um com uma dinâmica e suas dificuldades, o que torna o desafio de encarar os 300km com mais 4000m de ganho de elevação pelo sertão mineiro, ainda mais interessante.
A primeira parte da prova é a mais rápida, são 160km de estradão com muita poeira e costelas, algumas subidas e trechos de areia, com valas e pedras escondidas na densa camada de talco (camada que varia de 2cm a 10cm de poeira bem fina). Este é o momento dos passistas, da formação de pelotões, com ritmo forte e constante.
A segunda parte da prova se assemelha a um percurso normal de uma maratona point-to-point de mountain bike (XCP), que vai de Morro da Garça até o cair da noite rumo à Cordisburgo, de acordo com o ritmo do atleta, esse período pode variar de 50km a 100km. É onde começa o momento da “sofrência”, com uma sequência de subidas curtas e intermitentes, algumas partes de estradão, e as temperaturas mais elevadas da prova. É quando o ritmo da primeira parte da prova é quebrado pelas subidas com mais inclinação e muito calor.
Ao escurecer a prova ganha outra dinâmica, apesar da marcação com piscas e sinais refletivos, é importante que o atleta tenha bastante atenção para não se perder e deve ter cuidado para não sofrer um acidente devido aos desníveis do terreno, valas e pedras escondidas nas sombras e na densa camada de poeira. Este é o momento da concentração, quando a temperatura cai, e apesar do cansaço acumulado deve-se enfrentar o maior volume de altimetria e também o trecho mais técnico da prova em um donwhill de aproximadamente 10km.
Apesar de não ter grandes exigências técnicas pelo tipo de percurso, a ultramaratona Caminhos de Rosa não deve ser subestimada, pois exige muito da preparação física, a grande dificuldade da prova está nas características do terreno, nas mudanças de ritmo, clima e transição do dia para a noite.
Para quem ainda não se sente confiante de fazer o percurso completo de 300km, existe a possibilidade de fazer o percurso reduzido com 140km, largando de Morro do Garça e assim conhecer o final da prova e poder se preparar melhor para encarar o desafio completo. Afinal, o índice de desistência da ultramaratona é bem elevado, cerca de 30% dos atletas não conseguem completar a prova.
Um dos pontos de destaque é a organização da prova, toda equipe de staff e os pontos de apoio. Onde os atletas são tratados com muito respeito e carinho. A hospitalidade e a amizade são tão evidentes, que alguns pontos de apoio foram feitos por organizadores de outras competições, como o P.A. que estava o pessoal da Sertão Diamante e o P.A. do Desafio Extremo, e da equipe Brou Aventuras. Há um clima de amizade que permeita do início ao fim da prova.
Os Pontos de Apoio são distribuídos de acordo com as necessidades dos atletas, por exemplo, além do trivial (água e frutas) com 120km em Buritizinho há um macarrão servido a vontade, em Morro da Garça os atletas podem contar com o seu próprio apoio através do special needs, ao final das subidas com maior calor no P.A. do Desafio Extremo havia gelo e Isotônico, antes de entrar na parte no labirinto de florestas quando o sol começa a se pôr, no P.A. da Sertão Diamante havia bastante maltodextrina. E no último P.A. na Fazenda Paulista, além de uma mesa farta preparada no fogão à lenha, com marcarrão à bolonhesa, frango, batata, mandioca, refrigerantes, cerveja e uma cachaça pra esquentar, também estava disponível banho e cama, para aqueles que precisaram recuperar um pouco mais as forças.
Sem dúvida alguma, a Caminhos de Rosa é uma das melhores e mais duras ultramaratonas de mountain bike do Brasil. Uma dessas provas que a gente fica com vontade de voltar e que muda nosso conceito sobre como devem ser as competições de mountain bike, e que certamente entrará como um dos destaques do nosso ranking no final do ano.
Caminhos de Rosa 2017 – Da largada ao pódio, @tripedalnet
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Estou no terceiro ano do Caminho Rosa e a cada ano fico mais surpreso com este Sertão Mineiro que nunca tem a mesma cara.Este ano senti que foi o mais pesado.