O seu Carro é uma Arma

Como você agiria se tivesse que sair na rua com um revolver carregado na mão? E se você ainda estivesse alcoolizado, drogado, sonolento, estressado, ou utilizando um smartphone enquanto manuseia uma arma?

o seu carro é uma arma - campanha de conscientização no trânsito - tripedal

O número de mortes no trânsito brasileiro cresceu 40% na última década. Estima-se que o trânsito no país matará mais de 48.000 pessoas e deixará mais de 514.000 pessoas inválidas somente este ano; são mais de 4000 mortes por mês, 130 mortes por dia, 6 mortes por hora, aproximadamente uma morte a cada 10 minutos. Não somos conhecidos como um país violento, mas segundo dados da ONU (Organização das Nações Unidas), em um mês, o trânsito brasileiro mata mais que a guerra entre palestinos e israelenses, que em julho do ano anteiror deixou mais de 1,3 mil mortos e seis mil feridos no oriente médio. Além disto, o número de brasileiros mortos no trânsito é maior que o número de vítimas de homicídios, ou seja, nem mesmo todos os assassinos com armas de fogo do Brasil conseguem matar mais que os motorizados.

Novas estatísticas mostram que a violência no trânsito é a segunda maior causa de morte no país, à frente até de homicídios, um efeito do desrespeito às leis e da má qualidade dos motoristas. (…) Nós, brasileiros, temos mais motivos para temer um cidadão qualquer sentado ao volante ou sobre uma moto do que a possibilidade de deparar com um assaltante ou de enfrentar um tumor maligno”. Leonardo Coutinho

Para se ter uma ideia, pesquisando notícias na internet sobre assassinatos de ciclistas durante essa semana, o número de vítimas foi 3 vezes maior entre ciclistas assassinados por motoristas do que de ciclistas assassinados em homicídio. Isso não quer dizer que nossas cidades sejam seguras, pelo contrário, a cada dia aumenta o número de latrocínios. Ambos são fatos lamentáveis que não deveriam ocorrer em uma sociedade saudável, e demonstra o quão letal pode ser um automóvel quando utilizado de forma imprudente.

Em dezesseis anos, a Guerra do Vietnã foi menos letal para as fileiras dos Estados Unidos do que o vai e vem de veículos e pedestres consegue ser em um ano para o Brasil. O trânsito é o nosso Vietnã”. Leonardo Coutinho

Atualmente, travessar uma metrópole brasileira de bicicleta é como estar sozinho contra uma multidão armada. A forma como os deslocamentos nas cidades e estradas foram pensados privilegiando os automóveis em detrimento do homem, torna o motorista hostil. Como no desenho de 1950 da Disney: Sr. Walker e Sr. Wheeler, onde pacatos cidadãos como o “Sr. Pedestre” se tornam raivosos e agressivos como o “Sr. Volante”, quando ficam diante do outro que lhe é diferente.

O erro de todos os urbanistas é considerar o automóvel individual essencialmente como um meio de transporte. (…) O tempo gasto nos transportes, como bem observou Le Corbusier, é um sobre-trabalho que reduz a jornada de vida chamada livre. Precisamos passar do trânsito como suplemento do trabalho ao trânsito como prazer”. Guy Debord

Neste contexto andar de bicicleta representa a luta de uma minoria por sua liberdade de ir e vir, a diversidade de opinião, a busca por alternativas e por outra opção de deslocamento. Mais saudável, integrada com a cidade e consciente.

Quando pede-se paz no trânsito, imagina-se uma guerra, mas quando as mortes são apenas de um lado, então não se trata de uma guerra, e sim de um massacre”.

Assim como no treinamento militar, onde o soldado aprende a manusear o seu armamento e a periculosidade do mesmo. O motorista também deveria adquirir a mesma consciência, a fim de aprender a conviver de forma responsável com os outros, de desenvolver a capacidade de controlar o seu poder de destruição e ser realmente responsabilizado pelos seus danos, e finalmente aceitar as possibilidades da diversidade, de compartilhar a rua, estradas, espaços e terrritórios, e ter tolerância.

Infográfico - Principais causas de acidentes no trânsito

Veja também

» Carta aberta aos destemidos pedestres e ciclistas
» A importância do dia mundial sem carro
» Só bike salva

Referências:
• “Posições Situacionistas sobre o Trânsito” – Guy Debord
• Mapa da Violência do Centro Brasileiro de Estudo Latino-Americanos
• Seguradora Líder-DPVAT – Estatísticas do Seguro DPVAT
• Transporta Brasil – Trânsito brasileiro mata mais que guerra entre Palestina e Israel
• Infográfico: Veja | Brasil

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