"Eu adoro o cheiro de napalm pela manhã"

A Brasil Ride me faz vivenciar uma clássica frase do capitão Willard (Martin Sheen) no filme Apocalypse Now (Coppola, 1979): “Quando eu estava aqui, queria estar lá. Quando eu estava lá, só pensava em voltar para a selva”. Não foi por acaso, que ao convocar os parceiros para compor a equipe inicial eu disse que este ano iríamos para uma guerra, e criei o layout de uma camisa camuflada, e como coincidência não existe, uma das etapas rainhas da ultramaratona foi batizada como “The Battle”.

Brasil Ride 2016 - Relato de Darley Cardoso
Brasil Ride 2016 – Stage 4 – Foto: Sportograf

Na véspera do combate, um dos parceiros do trio desertou e nossa equipe foi dividida, se por um lado nossos objetivos e planos também foram divididos, por outro, haveria um número maior de equipes lutando pela nossa bandeira e assim mais chance de ter bons resultados.

Felizmente fui acolhido no pelotão da FMC, sob o comando do experiente capitão Romeu Franciosi e seu fiel escudeiro Normando Chimarrão. Foram 7 dias de batalhas, algumas amenas e outras duríssimas. As principais ocorreram no território de Guaratinga, onde do acampamento da Brasil Ride partíamos diariamente para o combate, lutávamos contra nós mesmos, nossas limitações físicas e psicológicas, onde o sofrimento físico fazia emergir conflitos internos e externos.

A quarta etapa foi a mais difícil pra mim, a grande altimetria em uma curta distância, somanda ao cansaço acumulado, calor, subidas e descidas muito técnicas entrincheiradas entre erosões e pedras, me levaram a um desgaste extremo. Mas como em uma guerra, o importante é não desistir, lutamos até o fim.

Brasil Ride 2016 - Relato Darley Cardoso
Brasil Ride 2016 – Stage 5 – Foto: Sportograf

O cenário das trilhas nas plantações de cacau e o calor úmido da densa floresta lembrava o Vietnã, assim como a fila de atletas sob o sol nos empurra-bikes remetia aos refugiados do conflito, com feridos resgatados pelo caminho. Como em uma armadilha na selva, teve um dia que ajudei a tirar um atleta que ficou preso em uma cerca de arame farpado, ele estava descendo um downhill muito técnico na minha frente e passou reto em uma curva. O arame fincou no seu braço, perna e roupa, a cerca impediu que ele caísse no despenhadeiro. Os “P.A.s” nos pontos ingrimes e de difícil acesso para veículos 4×4, também pareciam ter sido atacados por um bombardeiro após os pelotões atravessarem as áreas de maior dificuldade.

A cada estágio que completávamos, vencíamos uma batalha. Assim como no exército, o convívio forçado nestas circunstâncias, leva os atletas a criarem laços de amizade e a vivenciar uma outra realidade. A imersão na prova proporciona uma experiência de vida que é difícil explicar para quem nunca vivenciou algo parecido.

Brasil Ride 2016 - Relato Darley Cardoso
Brasil Ride 2016 – Stage 7 – Foto: Sportograf

Ao final do confronto, a 7ª edição da Brasil Ride foi considerada uma das edições mais difíceis da ultramaratona. Nós ficamos entre as 10 melhores equipes na nossa categoria, sendo uma das poucas a completar diariamente todas as etapas, sem abandonar nenhum integrante e sem deixar ninguém pra trás. E agora, estando aqui, eu só penso “em voltar para a selva”.

Estas empresas apoiaram a nossa equipe na Brasil Ride 2016

AAZ Sports   N4F Criações Interativas   Progeplan Engenharia e Meio Ambiente
Tribo Ink - Tattoo Studio   Plug Digital   RJ Fundações e Sondagens

PUBLICIDADE